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Mesmo assim...


Às vezes é quase como se eu pudesse ouvir meu coração.
Frio.
Morto.
Gritando na escuridão.
E como ele grita a noite.
Suplicando carícias quentes e amorosas de outro.
Mas seu apelo não é atendido.
Eu carrego o vazio como uma dor.
Uma dor muito lenta.
No meu peito.
Mas tudo isso é bobagem.
É apenas a minha imaginação.
É o desejo que faz isso parecer tão real.
Dói mesmo assim.

Pelo que as mulheres se apaixonam?

Mulheres.
Ah!
Mulheres.
Pelo que vocês verdadeiramente se apaixonam?
Seria o rosto perfeito?
A barriga de “tanquinho”?
Ou os músculos salientes?
A pele bronzeada do sol.
Não.
Claro que não.
Mulheres.
Nunca são tão simples.
Diretas.
A paixão direta do feminino.
Uma mulher se apaixona por aquele que a faz rir.
Se divertir.
Sentir um arrepio diante do toque.
O coração em chamas.
A vontade de se atirar, cega, nos braços do amor.

As borboletas que surgem do pó

E por fim, o monstro abraçou a moça.
Um abraço forte.
Apertado.
E ele sentiu as mãos dela.
Grudavam forte em sua pele.
A pele gelada dela e contato com a dele.
Um breve contato.
Então, como um trovão repentino, o abraço afrouxou.
Tornou-se fraco.
E o monstro assustou-se.
Sentiu o leve repelir do corpo dela.
Dos olhos  mareados dele, verteram lágrimas.
Cristalinas.
Sinceras.
Como um baque surdo, sentiu seu coração.
Delicado coração, que batia na intensidade da emoção compartilhada.
Delicado coração, que trincava como um vidro.
E do vidro, transformou-se em areia.
Da areia, ao pó.
E pó era o que a moça estava virando.
Vivendo.
O monstro tenta em vão conte-la.
Mas é tarde.
Sente os dedos frios da moça afastando-se.
Por entre seus dedos a moça se esvai.
Desaparece diante de seus olhos atonitos.
A ilusão.
O sonho que um monstro ousou sonhar.
Quando a criatura se ajoelha.
Mãos entre seus olhos.
O pó, aos poucos, muda.
Mutaciona-se.
Primeiro surgem pequenas asas coloridas.
Depois, um corpo fino.
Delicado.
Por fim, alçam voo.
As borboletas que surgem do pó.
Surgem da moça.
Voam livres.
Pelos céus.
Para os céus.
Livres.
O coração da moça.
Amadureceu.
O monstro olha para cima.
Para as borboletas.
Fala.
"E no fim de tudo, céu e terra continuam vivas. Para ela, nada muda e nada acontece. Apenas seu eterno ciclo implacável de amor e perda. Solidão e companhia. Para a vida, o agir de um homem têm o peso de uma folha seca no meio da ventania."


Terra molhada

Lembrei da chuva caindo aos Sábados.
Quando olho para ela, à chuva, sinto o cheiro dela, a moça.
É como o odor da terra molhada das gotas d'agua que descem do céu.
Sincero.
Marcante.
Assim é como sinto a moça.
Gostaria de ter lhe dito essas palavras, no dia em que saímos pela primeira vez.
Gostaria de ter lhe dito essas palavras, no último dia em que nos vimos.
Mas a força do tempo é implacável.
A coragem é fraca ao ponto de deitar-se sobre o lençol e jamais levantar.
A coragem adormeceu.
O tempo passou.
A chuva não cai mais.
Agora é o sol em céu azul que se faz presente.
E ao olhar para este sol, sinto como se o coração da moça se afastasse.
Meus dedos parecem pequenos demais para tocá-la.
Minha alma distante demais da alma dela.
Como a chuva, a frieza não cai mais.
Sob este céu, sinto que a perdi para sempre.
Não seu corpo.
Não sua amizade.
Nem seu beijo.
Mas seu coração.
O amor, sentimento tão frágil, parte-se aos mil pedaços.
Agora, resta somente uma coisa a fazer.
Juntar seus micro-pedaços e plantar novamente.
Fazer florescer e gerar frutos.
Algo dentro dela se perdeu.
Talvez, e apenas talvez, possamos reencontrar o que foi perdido.
E talvez, e apenas talvez, esse sol irá embora e a chuva retornará.
E sob a chuva, sentirei o seu cheiro novamente.
Sincero.
Marcante.

Sonho/Pesadelo

por Vanessa Bastos


Tudo estava maravilhoso.
Foram três meses e vinte e quatro dias de puro amor, carinho, lealdade, paixão, tesão, fidelidade, respeito, entrega, cumplicidade...
Enfim, tempos bons de uma relação única, um encontro de duas almas que se encontraram, se reconheceram, se complementaram, decidiram ficar juntas e querem se tornar uma só.
Se não de corpo, pelo menos de alma.
Era um sonho, quanto mais o tempo passava mais essas duas almas irradiavam um entendimento sem igual, poucas vezes antes visto.
Todos que os viam percebiam que eles transpareciam luz, felicidade como se estivessem juntos havia muito tempo, plena era a harmonia que tinham e a sintonia entre eles.
Porém, como nem tudo são flores, a parte ruim deu as caras.
Se foi cedo ou tarde não se sabe.
Afinal, relacionamentos não são iguais, cada um tem a sua fórmula.
Já na relação em questão essa coisa ruim apareceu durante um sonho da moça numa noite de setembro.
Sonho esse que mais tarde se tornaria pesadelo, visto que os sentimentos experimentados naquela fantasia se materializaram no coração da moça e lá ficou enraizado.
Isso porque quando se pressente que o amor da sua vida não lhe quer nem ao menos como inimiga, e sim lhe trata com total indiferença, o pior dos sentimentos.
E era exatamente assim que ela se sentia, abandonada por aquele que amava com fervor e devotava seus maiores e melhores sonhos e pensamentos.
No pesadelo da moça, não era o fato dela ser a outra, a amante daquele que era seu namorado na vida real que a incomodava.
Isso era mero detalhe e se o sonho fosse só isso, passaria despercebido como um sonho bobo ao coração dela.
O que a deixava perdida, vazia e sem chão foi não só ver como sentir a maneira que ele cultivava e venerava um amor, o mais puro e intenso dos amores do mundo a uma terceira pessoa não a ela.
Naquele momento, no sonho/pesadelo, a moça teve a exata dimensão disso quando olhou bem fundo dentro dos olhos de seu amado e sentiu um arrepio percorrer toda a espinha - não de tesão como aqueles que ele provoca na vida real quando estão juntos, mas de desfalência do corpo, da alma por ele estar totalmente vulnerável e a mercê daquela outra moça.
No fim, sabia que aquele era apenas um simples sonho/pesadelo que tivera e que não deveria dar bola.
Sabia também que era bobagem ficar mal, pois no mundo real, bem ali ao seu lado havia o namorado.
Namorado esse que a moça não podia duvidar do amor dele por ela nem por um segundo, pois esse já tinha dado mostras que tinha verdadeira adoração por ela.
Contudo, ela ainda sentia que faltava algo para esquecer de vez toda essa indisposição.
Percebeu então, que tudo o que ela queria era sentir-se – nem que fosse um grão de arroz, tão amada e desejada quanto aquela que vira enaltecida aos olhos e no coração do homem que escolheu para chamar de seu.
Mesmo com ele ao seu lado e amando-a com toda plenitude do seu ser.

Apenas duas palavras

A luz azul do telefone não surge.
Espera e não há sinal.
A angustia urge.
A culpa é verdadeira.
Sem ser rude ou grosseira.

A dúvida cresce e espalha-se.
Ferve duas dúzias.
Traz apenas choro.
Apenas choro.
Na noite.

Disse palavras de inconvêniencia.
Ignora a tranquilidade dela.
Como felicidade num espelho em pedaços.

Tudo o que queria era pronunciar duas palavras.
Disse apenas que ela devia ir embora.
Apenas duas palavras.
Era isso o que queria.

Faze-la sentir outra vez o arrepio ao sabor de Coca-cola.

Biografia

Eu ainda sou desconhecido, ignorado e inútil, por isso sou incapaz de soltar as amarras, tirar os sapatos e dançar na grama.
Mas eu sou um sujeito de sorte. Um dia qualquer, serei atingido por uma bala perdida e minha cabeça irá estourar jogando miolos podres ao vento.

Para viver e viajar além do vidro da janela.

Fortemente inspira o ar pelo nariz.
Tranca nos pulmões.
Ele levanta a cabeça do travesseiro.
A perna ainda dói.
O rapaz deitado tenta esticar a perna mas ela ainda dói.
Está com ela levantada, apoiada em um cobertor fofinho.
Imobilizada.
Mas não faz diferença.
A dor não vai embora.
Ele tenta ajeitar a perna para ficar mais confortável.
Imediatamente desiste.
Sente uma picada muito forte no tornozelo.
O músculo do lado direito puxa.
A sensação é a de mil agulhas perfurando sua pele, penetrando na carne e rompendo a casca óssea do pé.
Dói.
Muito.
O rapaz desiste de se mover.
Descansa a cabeça no travesseiro.
Expira.
Faz um barulho rouco quando solta o ar.
Inspira.
Expira.
Relaxa o corpo.
Não ousa se mexer outra vez.
Olha para o teto.
Branco.
Os ombros estão tensos.
Duros.
A dureza dos ombros faz com que os braços vibrem.
Cada dedo treme como se fosse um mini-terremoto.
Dez mini-terremotos fazem o rapaz ranger os dentes.
Nervoso.
A dor não vai embora.
Ele está tenso.
Não é somente o ombro.
Todo o corpo está firme.
Fecha os dedos da mão.
Depois abre.
Fecha.
Abre.
Continua tremendo.
O rapaz fecha os olhos por um momento.
Respira fundo.
Tenta acalmar o corpo.
Difícil relaxar com a dor das agulhas invisíveis que insistem em perfurar seu pé.
Abre os olhos.
Vê.
O teto do seu quarto.
Branco.
Pensa, que se focar sua atenção em algo, não sentirá mais dor.
Sua mente irá distrair o corpo de seu flagelo.
As agulhas invisíveis e os mini-terremotos desaparecerão.
Não para sempre, mas ao menos até o horário de tomar sua medicação.
Foca sua atenção no teto branco do seu quarto.
Fecha os dedos da mão com firmeza.
Esquadrinha o ambiente com os olhos.
O Rapaz não quer mover a cabeça.
Primeiro percebe a sombra, a parte mais escura do teto branco.
A sombra provém da janela aberta na parede a sua direita.
Apenas parte da janela fica aberta.
A outra metade está sempre fechada.
Metade do vidro é meio rachado.
A borda é de alumínio.
Metade sempre fica fechada devido as persianas.
Elas também são de alumínio.
O rapaz pensa o quanto isso é pobre.
Abre os dedos das mãos.
Um por um.
Devagar.
Não está tremendo.
A mente distrai o corpo de seu flagelo.
Continua.
Olha bem para além da janela.
Para além do vidro.
O melhor que pode ver dali, deitado, são as nuvens.
Movendo-se muito lentamente, um milímetro por vez, no céu meio cinza meio rosa.
Talvez um milímetro seja muito para a movimentação de uma nuvem.
Talvez seja menos.
O rapaz pensa nisso por um momento.
A movimentação das nuvens do céu.
É como o seu estado atual.
Funciona igual.
Movimentar o corpo pouco a pouco.
Milímetro a milímetro.
Pedaço por pedaço.
O mundo do outro lado do vidro da janela está livre para se mover.
Talvez, pouco a pouco, o rapaz também possa estar.
Basta tentar acompanhar o movimento da nuvem.
Continuo.
Inexorável.
E inexoravelmente, o rapaz tenta erguer o corpo.
Respira forte.
Levanta a cabeça.
A mente não vai mais conseguir distrair o corpo.
Ergue as costas do colchão.
A dor vem sem cerimônias.
Como um carrasco sem clemência, o músculo da perna puxa.
A dor no pé é muito forte.
Fecha os olhos.
Ignora a dor.
Seja forte.
Usa as mãos para se firmar e empurra o tronco para traz.
Encosta na parede.
Ajeita o travesseiro nas costas.
Expira.
A dor é forte.
A lateral do pé e o tornozelo latejam.
As agulhas invisíveis avançam até a raiz dos ossos.
Dói.
Bastante.
Fecha os olhos.
Relaxa os ombros.
Os braços não tremem.
O terremoto pessoal se foi.
O segredo foi distrair o corpo com a mente.
O rapaz pensa que o segredo é a mente.
Sempre a mente.
E, naquele quarto, preso pela dor na perna, o rapaz nada tem além de sua mente.
Ela, assim como as nuvens, é impossível de prender.
Com a mente, o cérebro, à vontade, a imaginação, com tudo o que existe dentro de sua cabeça, o rapaz é livre.
Livre para vagar.
Para viver e viajar além do vidro da janela.

Romance do Não



Não da atenção devida aos amigos.
Não consegue fazer tudo o que gostaria num dia.
Não come os legumes, frutas e verduras que deveria.
Não lê mais, escreve mais.
Não ouvir sinceramente.
Por não achar que merece.
Ou por achar.
Ou nem ligar.
Desliga o celular.
Não responde as mensagem.
Não atende.

Doença

Todos temos problemas.
Somos doentes.
Vivemos numa sociedade doente.
Onde só não vale fazer de seu problema exceção.
É preciso olhar ao redor e encontrar os semelhantes.
Aqueles cujos problemas combinam com os seus.
E em cada fase de sua vida, mudam os problemas.
Vive melhor quem melhor lida com eles.

Crônicas ao Perdedor (1): A Teoria do Efeito Pé

E surge a Teoria do Efeito Pé.

Sobre relacionamentos.
Exclusiva para homens a partir dos 20 anos.
Abrange, principalmente, os perdedores.

Em geral, não é difícil conquistar uma mulher.
Isso é fato.
Mesmo um perdedor consegue.
Basta tentar.
Entretanto, quando chega-se a uma certa idade crítica, outro conceito torna-se importante.
Mais imprescindível do que tentar, são as chamadas "características fundamentais".
Capazes de interferir em um relacionamento e definir seus rumos.
Quando um perdedor não possui atributos físicos,sociais, financeiros e um carro, corre-se o risco de mergulhar o relacionamento em uma espiral descendente.
No movimento de descer até o chão, a espiral finalmente inicia o Efeito Pé.
Consiste, basicamente, do ato do perdedor levar um PÉnabunda da companheira e terminar sozinho, chorando na sarjeta.

Também, existe uma variante do Efeito Pé, comunmente conhecida como O Ser Invisível.
Consiste em, durante um relacionamento estável, o perdedor torna-se inexistente para a parceira/companheira.

Entra-se em uma rede social e vê se o perfil da mulher.
Lá irá estar o perdedor e a parceirta em questão, em uma bela foto.
Ambos lindinhos, fofinhos, bonitinhos e bacaninhas.
Tocante.
Entretanto, em uma segunda oportunidade, repete-se o processo.
Entra-se na rede social e vê se o perfil da mulher.
Lá irá estar ela, seu foco de amor, lindinha, fofinha, bonitinha e bacaninha.
Estará beijando outro cara, também lindinho, fofinho, bonitinho e bacaninha.
Obviamente, esse cara não será o perdedor.
Será o sujeito vencedor.
Provavelmente escutar-se-a uma frase do tipo:
"Poxa! Ela me pénabundeou e eu nem sabia!"
Isso acontece, pois o perdedor possui alto grau de invisibilidade social, acarretando no total esquecimento pela parceira/companheira.
Ela simplesmente esqueceu de dar o fora no rapaz antes de achar alguém melhor.
É o Efeito pé, com o agravante da inexistência.