Ficção científica e a chance de expandir suas ideias

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A imagem da televisão não está muito boa.
O canal em que o filme passa, está mergulhado em chuviscos e, não importa o quanto se arruma a antena, existe um limite para o quão bom à imagem pode ficar.
Assim, bruxuleando na tela do aparelho, a cantina de Mos Eisley está lotada.
Os aliens, de todos os tipos, tamanhos e cores, bebem, gritam, brigam e cantam.
Animando a bebedeira, os músicos Figrin D'an e os Modal Nodes fazem o jazz quebrar a aridez do planeta Tatooine.
Numa mesa, no canto da cantina, Luke Skywalker e o velho Ben Kenobi negociam com os contrabandistas Han Solo e Chewbacca uma fuga na nave mais rápida da galáxia, para longe do planeta cercado de soldados imperiais.
Naves espaciais, alienígenas e nomes complicados.

Claramente, assumimos ser uma obra de ficção científica. No entanto, tomando cuidado ao analisar, percebe-se que a obra não é absolutamente ficção científica. Talvez, qualquer um que pensa que pode ser descrito como tal, está equivocado ou simplesmente errado. Mas tem aliens, naves espaciais e nomes complicados; como pode não ser ficção científica?

Por definição, obras de ficção científica tratam do impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade e os indivíduos dessa sociedade. O que, não necessariamente, envolve o leque de possibilidades como viagem espacial, viagem no tempo, mais rápido que a luz, universos paralelos e vida extraterrestre. Esses termos, nada mais são, do que troopes, lugares-comuns, muito associados à ficção científica, mas não necessariamente usados por ela. Some a isso, o pequeno preconceito que envolve esses troopes, definindo-os como algo mais "infantil" e, por consequência, algo com demérito e menor, e logo teremos, por tabela, a ficção científica como "lixo". 

A ficção científica como "lixo", reflete um estigma de longa duração que tem sido aplicada para a ficção de gênero como mídia. Esse estigma frequentemente leva os criadores e comerciantes a evitar os rótulos de gênero, tanto quanto possível. Isso ocorre mesmo em obras que têm a ficção científica clara ou possuem gritantes elementos fantásticos. Também reflete a tendência dos críticos, acadêmicos e criadores fora do nicho de automaticamente desdenhar de obras que não podem escapar deste rótulo, ignorando a qualidade ou mérito relativo à obra específica e não da mídia de nicho. Por outro lado, se esses críticos, criadores e acadêmicos sentem que o trabalho possui mérito por seus padrões, eles insistem veementemente que o trabalho não é uma ficção científica, podendo ser política, mas nunca científica.

Duna, de Frank Herbet

Muito disso tem a ver com esnobismo. A percepção (um pouco contraditória) sobre ficção científica, em geral, é que ela é demasiada complexa para o público mainstream. Nessa linha de pensamento, esses leitores ou espectadores gerais possuem gostos "simples" e ainda não está sofisticados o suficiente como os críticos e acadêmicos que, de fato, aproveitam tudo o que a ficção científica e a ficção de gênero, têm a oferecer como mídia.

Esta percepção tende a ser elaborada a partir de dois extremos. Primeiro, a ficção científica é muitas vezes descartada como "lixo", sendo estereotipada como mal escrita, criada por autores sem talento que nunca fizeram nada além de regurgitar seu entusiasmo por histórias bobas. Na outra extremidade do espectro, ficção científica é muitas vezes vista como obras apocalípticas que, essencialmente, trazem ensaios científicos demasiados complicados travestidos de histórias aparentemente escritas por pessoas que têm múltiplos doutorados em ciências exatas incapazes de conseguir interagir com outro ser humano. Em ambos os casos, o resultado é considerado o mesmo; material mal escrito, com parcelas canhestras de caracterização de personagem, quase totalmente desprovido de mérito literário.

Alguns escritores têm poucas pretensões de atingir o status de arte verdadeira que seus pares anseiam alcançar e abraçam o "lixo". Esses mesmos escritores abraçam alegremente o aspecto pulp ou de Filme B que o gênero pode oferecer. Também, aproveitam a chance de expandir suas ideias mais complexas para um público menor que sabe que vai entender a mensagem. Da mesma forma, alguns fãs ansiosamente abraçam o "lixo" e vão preferir, em casos extremos, somente aproveitar a mídia pela complexidade dela, muitas vezes dispensando aqueles que não se aprofundam na mídia como idiotas sem imaginação.

Esta atitude, naturalmente, tende a ignorar o fato de que, aqueles que absorvem a superfície de uma mídia mais do que se aprofundam, também tem energia, criatividade e imaginação para construir e propagar uma obra de ficção de gênero tão boa quanto qualquer outra. Essa atitude de "dentro da mídia versus fora dela" pode ser indicativo de uma espécie de esnobismo semelhante a criar uma ideia de ficção de gênero como lixo, em primeiro lugar. É importante lembrar que o "lixo" não é ruim porque a qualidade dessa literatura, cinema ou quadrinhos é ruim. Em verdade pode ser ruim porque ele assume que ficção científica, fantasia ou horror não podem ser uma mídia de qualidade.

Pura tolice.


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