Obedeci à minha consciência e razão

A mulher pega a xícara de café que estava em cima da mesinha.
Segura  com as duas mãos.
Sente que está quente.
Assopra um pouco.
A fumaça sobe em rodopios e desvanece no ar.
Finalmente, ela toma um gole do café, com cuidado.
Devagar.
O rapaz está sentado do outro lado da mesinha.
Observa atentamente a amiga tomar lentamente o conteúdo da xícara.
Ele pigarreia.
Ela sorri.
Deposita a xícara de volta a mesa.
Fala.

AMIGA - Finalmente você a convidou para sair?
RAPAZ - Sim.
AMIGA - E então, por qual motivo você demorou tanto?
RAPAZ - Não sei.
AMIGA - Não sabe?
RAPAZ - Talvez falta de coragem.
AMIGA - Você tinha medo?
RAPAZ - Um pouco.

Ele desvia os olhos para baixo.
Respira fundo.
A mulher bebe mais um pouco do café.
Fixa seus olhos no rapaz.

AMIGA - Qual era o seu medo?
RAPAZ - Não sei se era medo.
AMIGA - Se não era medo, então o que era?
RAPAZ - Talvez fosse medo.
AMIGA - Medo do quê?
RAPAZ - De perde-la.

O rapaz torna a olhar para a amiga.
Ela oferece o seu melhor sorriso a ele.
Ainda segurando a xícara, curva o corpo para a frente.
O rosto dela mais próximo dele.

AMIGA - Você nunca tinha tentado nada com essa moça por medo de perde-la?
RAPAZ - Isso.
AMIGA - Como você iria perde-la se nunca a teve?
RAPAZ - Eu tinha sua amizade.
AMIGA - Mas você gostava dela não é? Digo... de uma maneira diferente de uma simples amizade.
RAPAZ - Sim.
AMIGA - E você não tinha vontade de ficar com ela? Tentar alguma coisa?
RAPAZ - Tinha.
AMIGA - Então... se você tinha a vontade e o sentimento, por qual motivo demorou tanto para agir?
RAPAZ - Difícil explicar.
AMIGA - Tente. Uma palavra de cada vez.

O rapaz inclina-se para trás.
Estica os braços.
Olha o ambiente ao seu redor.
A amiga segura uma das mãos do rapaz.
Tenta acalma-lo.
Oferecer coragem e carinho.
Ele sorri para ela.
Fala.

RAPAZ - Sabe... Era como se a cada momento em que eu estivesse ao lado dela eu tivesse o impulso de abraça-la.
AMIGA - Entendo.
RAPAZ - Mas nesses momentos, o impulso não era de maneira alguma pequeno.
AMIGA - Muito forte?
RAPAZ - Na primeira vez que notei sua presença, a moça e eu estávamos próximos, um ao lado do outro. Naquele momento, se estivessemos sozinhos, teria lhe pedido seu amor.
AMIGA - Mas não o fez.
RAPAZ - Não. Obedeci à minha consciência e razão.
AMIGA - Consciência?
RAPAZ - Havia gente em volta. A irmã dela.
AMIGA - E o que importava?
RAPAZ - Eu a conhecia. A irmã dela. Assim, com as duas juntas, minha espontaneidade foi controlada ali. E infelizmente demorou um longo tempo para se recuperar.
AMIGA - Você não percebe?
RAPAZ - O quê?
AMIGA - O que importa, não é o quanto você demorou para agir, mas o fato de que você agiu quando se recuperou... quando o seu sentimento e certeza estavam completamente maduros.

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