SOBRE RETORNOS E MEMÓRIAS



  Eu tenho viajado pela estrada da memória nos últimos dias, então resolvi clarear um pouco as ideias sobre o que nós fazemos aqui e o que você lê.

  Faz algum tempo que o site não é atualizado e isso tem muito da nossa inércia como autores, da minha saúde ruim e do tempo que passa muito depressa.

  Star Justice, o mangá/HQ que vínhamos produzindo desde o ano passado, foi momentaneamente retirado do site. Não que nós tenhamos desistido da história. Mas estamos refazendo muita coisa com o intuito de republicá-la de forma profissional. É uma das duas oportunidades que nos surgiu esse ano. A primeira, uma exposição de periódicos em um museu, não fomos capazes de aproveitar. Em parte, por eu ficar doente perigosamente próximo a data limite de entregar o material e em parte por sermos meio fora dos padrões. 

  Deu errado e tivemos de seguir em frente.

  Foi assim que chegamos na segunda oportunidade, de publicar mais seriamente Star Justice que envolve um processo lento de retomada e reformulação. Mas logo volta.

  Faz parte da jornada, eu acho. 

  É assim que chegamos na parte sobre a memória.

  Eu estava começando a desenhar a primeira página de Star Justice em setembro de 2017, quase um mês depois da Vanessa entregar a última versão do guia de personagens e o primeiro roteiro. Lembro-me de terminar a última página do primeiro episódio no finalzinho do mesmo mês. Foi uma dessas ocasiões em que o universo conspira quando desenho e produzo tudo rápido.

A Vanessa exigiu apenas algumas mudanças em alguns quadros e reescreveu duas falas. Fomos jantar na cama depois que eu terminei as mudanças. Tudo parecia mais promissor naqueles dias, por isso é fácil de lembrar os momentos importantes. Nós fomos capazes de escrever alguns roteiros e desenhar um deles em menos de dois meses. Nunca tínhamos realmente feito quadrinhos/mangá antes. Para mim, pessoalmente, foi uma tremenda vitória e um grande incentivo. Éramos capazes de fazer o que queríamos. Lembrando agora, foi uma sensação semelhante a que tive ao finalizar a primeira versão de Robotizando. Desenhei mais 5 episódios até dezembro, quando começamos a lançar os episódios aqui no site. Já faz um ano de trabalho desde o começo desta jornada.

  O que aconteceu depois, comentei no início desse texto. 


  O que eu não comentei é o quanto eu gosto de produzir Star Justice.

  Uma das razões pelas quais eu gosto tanto dessa história é a analogia entre mitologia e pessoas. Às vezes, ambos são algo que você nem sempre entende, mas consegue sentir profundamente quando aceita partir na jornada. Isto é, tanto para encontrar o Cálice Sagrado quanto para presenciar uma pequena parte da vida de outra pessoa. Essas diversas jornadas que encaramos no dia a dia, acredito eu, nos leva a vivenciar recortes de muitas histórias ao mesmo tempo: A vida das pessoas que encontramos e sua beleza. Assim como histórias mitológicas, você pode mudar quando se deparar com uma pessoa e ouvi-la. Ou participar por apenas um momento, de suas próprias narrativas.

Senti que fazia sentido para mim encarar Star Justice como uma jornada de diversas pessoas, tendo essa misteriosa beleza poética como guia. Pensei nisso enquanto eu trabalhava no rascunho mais recente do HQ (ou mangá) e isso me fez encarar melhor minha maneira de desenhar os personagens.

  Fazer os visuais dos personagens de Star Justice, que eu criei com a Vanessa é uma experiência diferente de todas as outras que nós fizemos antes, onde eu estava trazendo minhas interpretações visuais de personagens que eram muito mais abstratos por serem construídos durante a narrativa, por meio de seus sentimentos, ações e passado. Robotizando foi construído dessa forma mais orgânica. Parecia mais fácil de interpretar num desenho. De alguma forma, havia o desafio de encontrar uma composição que misturasse elementos da narrativa para criar um design que transmitisse como esses personagens me fizeram sentir. Já os personagens de Star Justice são muito mais intensos de construir o visual, tanto por suas várias evoluções ao longo da narrativa, mas também por já estarem prontos antes mesmo da história começar. É como se eu não os interpretasse, mas os fotografasse. Acredito que isso tenha muita relação com a natureza das histórias em quadrinhos e suas diferenças com a literatura.

  Ainda tem muita coisa para fazer essa semana. Sempre tem muita coisa para fazer todas as semanas, muito embora seja difícil de perceber para quem está de fora. Vanessa ainda está empenhada em cuidar dos trâmites mais burocráticos envolvendo o lançamento do nosso novo (talvez primeiro?) livro. Algo que, esperamos muito, seja resolvido antes da próxima semana. Também tenho de me dedicar a terminar as páginas de Star Justice nos próximos dias, fazer uma arte vendável dos personagens principais.

  Tenho tido conversas empolgantes com a Vanessa sobre o que o futuro nos reserva, quais os desafios que vamos enfrentar para "dar certo" e o que nos faz seguir em frente. O tempo tem andado bastante depressa, quase como se fosse nos abocanhar sem piedade. Eu preciso ser mais rápido no meu ritmo de produção para conseguir aproveitar as oportunidades que surgem e ficam mais escassas a cada dia.

  Não é como se houvesse uma resposta para isso.

  Só nos resta acreditar e voltar ao trabalho.

  Sempre em frente.

Thomaz Alves.

Florianópolis
Setembro de 2018 


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