Mares em rubor

Eu tive um sonho.
Não daqueles que temos para a vida.
Foi daqueles que se tem durante a noite.
Durante o sono.
No sono.
Sonho.
Nele, eu tinha a sensação de estar afundando.
E a moça estava parada junto à entrada para um jardim.
Esbelta.
As pernas esguias, formando belos ângulos.
Curvas em roupas de algodão.
Brancas.
Os adoráveis angulos de seu rosto.
Aquela boca pequena.
Implacável.
Como sempre, o cabelo solto.
Seriam para mim, os longos cabelos soltos?
Sinto aflição nesta simples imagem.
E essa aflição aumentava conforme eu me aproximava dela.
Era como estar a um mar estranho.
Onde a maré incluia no seu balanço todas as perdas.
Todos os mortos.
Os imortais.
Imortais sonhos.
Mas a moça desapareceu.
Retornou a sensação de estar afundando.
A sensação do sonho de estar navegando.
Sem rumo.
Sem sentido.
Com ou sem vontade.
E agora, lembrando da cena dentro do sono.
Meu sono.
Ocorre-me que os cabelos dela podiam ser descritos como uma chuva constante.
Que toda a poesia antiga faz sentido.
Um sentido que surge quando se olha para alguém a quem se ama.
Um sentido que surge das lagrimas que agora brotam de meus olhos.
No sonho, senti sua emoção.
Como se ela tivesse saído do mundo de morfeus para me tocar.

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