Noite Quente



Fecha a porta.
O quarto está escuro.
Apenas a luz da rua entra pelas frestas da janela de alumínio.
Esta no escuro da madrugada, mas o rapaz não se importa.
Tira com cuidado o relógio do pulso.
O anel do dedo polegar.
Por fim o óculos.
Deposita sobre a mesa bagunçada.
Num movimento tira a camiseta.
Joga ao chão.
Está com o corpo suado.
Ele não liga.
Abre a fechadura do cinto.
Puxa.
Abre o botão da calça.
Empurra o zíper.
Tira.
Com o pé, afasta as roupas recém tiradas para debaixo da cama.
Tateia as cegas e tenta encontrar a porta do quarda-roupas.
Consegue segurar o pegador.
Puxa de leve.
Abaixa-se e revira as roupas dobradas.
Tem delicadeza nos movimentos para não amassar as camisas e bermudas.
Procura seu pijama.
Ou um pijama improvisado.
Naquela altura da noite, é difícil achar algo em um guarda-roupas as cegas
Qualquer coisa que seja confortável para vestir serve.
Continua suando.
Passa a mão na testa para enxugar.
Escolhe uma calça justa e velha.
Depois, uma camiseta de malha barata, bem aberta no pescoço.
O rapaz pensa que é ótima para noites quentes.
Levanta.
Veste a parte debaixo da roupa.
Senta na cama.
Coloca a blusa.
Sem pressa.
Estica os braços.
Está quente.
Estala os ossos dos dedos.
Respira fundo.
Solta o ar.
Bufando.
Do lado de fora do quarto, os enfeites de natal no poste piscam.
A luz da rua que adentra no quarto pisca.
Pulsante, a luz é fraca e depois fica forte.
Assemelha-se, muito, ao ritmo das batidas do coração.
Fraca, forte e constante.

tum TUM tum TUM tum TUM...

Constante.
O rapaz transpira sem para.
Enxuga a testa com o antebraço outra vez.
Deita.
Respira fundo.
Observa as luzes.
De novo, associa com as batidas do coração.
Mas agora, ele lembra do ritmo cardíaco dela.
Da moça.
Sempre rápido.
Sempre forte.
Como se o corpo dela estivesse ligado ao máximo, todo o tempo.
Põe a mão no seu próprio peito.
Tenta sentir.
O compasso dentro de seu peito é lento.
Irregular.
Respira fundo outra vez.
Pensa na moça.
As batidas aceleram um pouco.
Sorri de leve.
O rapaz imagina.
Lembra.
Pensa.
Ele nunca consegue identificar quando seus pequenos lapsos de felicidade aguda estão em erupção.
O rapaz somente  caí em si, sobre o que sente, tardiamente.
Apenas quando a boca se faz notar.
Insiste em mostrar os dentes.
Nesta noite, ele está assim.
Sorrindo.
Com os dentes a mostra.
Naquele momento, todo o calor, todo o cansaço do corpo, é ínfimo.
Insignificante.
O sorriso, nascido do sentimento vulcânico da paixão exacerbada, é o que realmente tem importância.
Muita.
Para ele.
E o rapaz, então, está ali, deitado com os olhos abertos.
Brilhando no escuro do quarto.
Hoje, ele vai aproveitar muito um desses lapsos.
Muito.
Ele transpira.
Ele sorri.
Pensa na moça.
Os olhos se fecham.
Aos poucos.
O sono vem.
Dorme.
Bem.

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