A fantasia

O Rapaz se perguntou e não pela primeira vez.
"Será que chegara o dia em que o sentimento tornou-se tão intenso que se fazia insuportável?"
A distancia da moça, cada minuto longe.
Isso se fazia insuportável.
Se pudesse recuar no tempo até a manhã em que a viu, pela primeira vez, acordar.
Desejava trazer o corpo dela para perto do seu.
Se ouvesse uma maneira, ele o faria.
Não havia dúvida.
Nunca ouve.
Mas, com o passar dos dias, dos minutos, a saudade, em vez de diminuir, aumentava.
A distância, cada segundo longe, tornava-se uma incerteza que não parava de pulsar.
A incerteza de que o sonho seja apenas sonho e o real não exista.
Lembra.
O rapaz lembra de quando a tomou nos braços, naquela noite.
Tomou-a nos braços enquanto Charlie Sheen tagarelava na TV do quarto.
A luz bruxuleante do aparelho invadia o ambiente.
Aconchegante, sob o edredon, o rapaz sentia o cheiro da moça.
O cheiro do quarto, do edredon novo, dos cabelos não lavados dela.
Os pés enroscados em uma briga que ninguém quer ganhar.
A pele dela gelada como sempre.
E os lábios dela roçaram os dedos do rapaz.
Ele a tomou nos braços.
Mas o mundo é duro e não pode mais proporcionar isso.
A fantasia.
O desejo.
A falta que ela faz, a noite, ao seu lado sob os cobertores.
Tudo o que o rapaz pode fazer é lembrar daquilo que não tem.
Talvez, jamais haverá de ter outra vez.
E há muito faz falta.
Sente que deveriam poder estar sempre juntos.
Sempre.
E fazer caminhadas sob velhas árvores.
O rapaz queria acompanhar o lento surgir das rugas no rosto da moça.
Saber quando cada uma delas apareceu.
Queria que vivessem juntos.
Que tivessem esperança juntos.
Ela é a esperança dele.
A moça.
Ele a tomou nos braços - desejava gritar EU TE AMO, para os quatro cantos do mundo - e, se soubesse que, para abraçá-la novamente, teria de enfrentar todo o mundo ao ponto de abrir mão de sua própria vida, ele o faria.
Sim!
Ele o faria!
Haveria de sacar a espada e partir para a luta, nem que isso lhe arrancasse o último frescor de ar de seus pulmões.
Nem que seu coração deixasse de bater sob o peito.
Lutar e conquistar ou tombaria em campo de batalha.
Esse era seu sentimento.
O sentimento do rapaz pela moça.
Um rapaz que moveria céus e terra para dormir ao lado da moça amada, uma vez mais.

Um comentário:

  1. Sei bem o que é um sentimento intenso a ponto de ser insuportável...no meu caso não há nada a fazer, no seu caso é fácil: peça a moça em casamento!

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