Pátria em Junho

Jong Tae-Se cai em lágrimas ao ouvir o hino de seu país.
Um frio enorme.
O atacante da Córeia do Norte, apelidado de “Rooney Asiático”, proporciona uma das mais belas imagens do jogo de estréia do Brasil na Copa do Mundo de 2010.
A emoção no choro do norte-coreano, é a emoção da estréia. Do peso de uma camisa. De uma pátria. Sem dúvida, o nervosismo da estréia foi compartilhado pelos jogadores brasileiros.
Estrear é lidar com isso.
O nervoso. A tensão.
Zero grau de temperatura.
É possível sentir o estado de espírito da seleção sem estar na África.
Totalmente visível.
Dunga quieto, com a língua para fora dos lábios, sobrancelhas arqueadas. Lúcio agoniado, dando bronca na individualidade de Robinho. Kaká com o rosto contorcido de decepção ao ser derrubado. O resmungo de Luiz Fabiano para o juiz.
Os olhos de Maicon voltados aos próprios pés depois de um chute perdido.
O peso do primeiro jogo fez a diferença.
Pesou tanto, que a seleção foi devagar. Sem movimentação. Parada pelo posicionamento dos zagueiros asiáticos.
A formação do Brasil de Dunga é previsível. Conhecido.
Desconhecido é a garra do adversário. Jong Tae-Se tem uma das coxas rasgadas pelas travas da chuteira de Lúcio, tamanha é a vontade de jogar.
Para a Coréia do Norte, esse zero a zero valia sangue.
Entre os jogadores brasileiros, Kaká ainda está sem ritmo de jogo.
O protagonista é Robinho. Sua "pedalada" destoa à partida. Dá brilho.
É quem tenta algo diferente.
O restante, chutes distantes, sem destino. Perdidos, rumo à arquibancada.
No primeiro tempo, o Brasil não acerta o gol dos norte-coreanos.
Eles, entretanto, têm o sentimento do conforto.
Chegam até Júlio César. O fazem trabalhar.
Sob o frio, de luvas e mangas compridas, o futebol brasileiro congela.
Sem alterações no intervalo, a seleção volta para o segundo tempo exatamente do mesmo jeito.
Luiz Fabiano se desentende com o juiz e com a bola.
O zagueiro Nam-Cho faz falta em Kaká. Isso anima os jogadores. Robinho esboça um sorriso. É uma posição muito boa. Com um gesto de mão, Michel Bastos se põe a cobrar.
Chuta para fora.
Tenta-se o ataque pela direita. No passe preciso de Elano para Maicon. A Jabulani percorre seu caminho por entre a defesa asiática.
Maicon chuta. Ou seria cruza?
O goleiro Myong-Guk faz esta mesma pergunta para si. Faz a escolha errada.
Maicon chutou.
Usa os dedinhos do lado externo do pé direito.
A bola faz curva no limite da linha de fundo.
O primeiro gol do Brasil, aos 9min do segundo tempo.
O jogador ajoelha e beija a aliança. É Abraçado por todos.
Respira fundo e fecha os olhos em gratidão divina.
Foi como uma injeção de animo para os companheiros.
Os norte-coreanos recuam e o Brasil domina o campo.
63% de posse de bola do Brasil.
Aos 26 minutos, Daniel Alves estava pronto para entrar. Conversa com o técnico, baixinho.
Espera.
Exatamente na hora, uma jogada se constrói. Robinho dá um passe perfeito, com jeito de moleque. Elano aproveita a chance acerta o gol.
2 a 0.
E ai deixa o campo.
Feliz.
Fez passe para gol e fez gol antes de ser substituído.
Em outra mudança, Ramirez entra no lugar de Felipe Melo.
Logo recebe o primeiro cartão amarelo do Brasil na Copa.
E quando se esperava mais um gol do Brasil, Yun-Nam, volante, domina a Jabulani fora da área, dribla Gilberto Silva, passa por Lúcio e chuta antes do carrinho de Juan.
Gol.
2 a 1.
Uma derrota.
Mas uma derrota suada, lutada. Para ser festejada após o apito final.
Ao termino de 90 minutos, o passo inicial da seleção foi dado. Mas ficou a sensação de ser um passo desajeitado. Bem pior do que se esperava. Contra a fraca Coréia do Norte, tem-se a obrigação de vencer bem. Era um jogo programado para fazer goleada.
E ela não veio.
Para o Brasil, o que veio foi esperanças.
Maicon.
Elano.
Eles salvaram o Brasil na estréia.
Eles são nossa esperança.

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