A primeira vez que a viu, estremeceu.
Na realidade, não foi a primeira vez que a viu, e sim a primeira vez que a notou.
Muito embora, isto não tenha a menor importância.
O efeito foi o mesmo.
Sentiu as pernas ficarem bambas.
A garganta secou.
Os dedos ageis endureceram.
O sentimento surgiu como uma descarga elétrica.
Não pediu licença.
Nem precisava.
Mas a ocasiao em que ocorreu, sem dúvida, ajudou.
Ela estava sentada no velho banco de metal, em frente ao barzinho.
Degustava uma empada.
Os dentinhos cortando delicadamente os fiapos de frango e pedaços de massa.
Farelos incontáveis manchando seu lábio rozado e desejavel.
As mãozinhas de dedos miúdos segurando com cuidado o guardanapo que envolvia o alimento.
Fechava os olhinhos de cor de mel a cada pedaço comido.
Não é possível dizer por quanto tempo ele a olhou e nem se o sentimento veio de imediato.
O fato é que o rapaz, em todo o seu esplendor mediocre, de calças pretas e oculos fundo de garrafa, apaixonou-se.
Incontávelmente.
Incondicionalmente.
Completamente.
Enlouquecidamente.
Apaixonou-se pela garota que comia uma empada em um banco de metal velho.
E demorou até reparar-lhe todo o resto de seu corpo.
Talvez pela estupefação da surpresa.
Ela usava uma simples blusa verde de tecido, nem frio e nem quente.
Deixava o inicio dos seios brancos a mostra em um decote comportado e sensual.
O cabelo preto e bastante longo, preso em um coque sem graça.
Seu pescoço, comprido e delgado, acompanhava e mostrava-se como uma torre de marfim em meio a uma savana.
Ele gostava.
Muito.
Depois, percebeu as pernocas finas que estendia-se até o tamanco de salto que dava-lhe mais altura.
Ele levou horas, ali, observando-a.
A moça, que comia e comia a empada.
E olhava para os lados e falava, entre os intervalos de mordidas mastigação.
Tinha uma outra moça a acompanha-la, muito parecida.
Talvez até fosse igual, embora a idéia de que fosse mais alta predominasse.
Independentemente da semelhança, o rapaz em toda a sua atenção, pensou que jamais havia visto moça mais sem graça.
A moça da empada, o objeto de seu desejo, parecia roubar-lhe toda a luz, toda a originalidade da outra.
E ambas conversavam.
Falavam bastante.
E conforme viu ela falar, notou que a menina parecia muito perdida.
Tinha algo no jeito de mecher a boca, misturando mordiscada no lábio e sorriso de canto de boca.
Meio educado e meio vazio.
A outra sorriu doce.
A moça terminou sua empada e limpou discretamente dois dedinhos com a lingua.
Levantaram da mesa, gesticularam em sincronia no pegar de suas bolsas e foram embora.
O rapaz finalmente moveu-se.
A emoção intensa foi desvanecendo aos poucos devolvendo a ele suas pacacidades normais de percepção de tempo.
E olhando ao relógio o tempo se fez presente, mostrou-lhe que era muito tarde.
Tarde demais, para escapar da paixão avassaladora da primeira vista sobre a moça da empada.
0 comentários:
Postar um comentário